Arqueologia de um poema inexistente
Aug 4, 2024
Tento escavar mas o som da torneira pingando me suspende — pauso a escavação.
me apoio nas finas hastes de vassouras na finura do varal: desequilibro e esqueço o intrincado oficio de escavar.
Recomeço. O som da água agitando as margens da pia
[a inesquecível face de tudo que é cotidiano e normal
eu, muda, tentando fingir que não ouço.
me seguro nos delicados bordados sobre a mesa
nos tapetes rente às portas.
Escavar, escrever. Procurar.
é noite, eu quero escavar, preciso escavar.
Mas o som da água deslizando sobre a pia me recorda
nem todo dia é pra escrever poesia.