Composição II: Lusco-fusco

parte II de III

Rute Ferreira
1 min readSep 1, 2024
Mar Calmo, de Simon de Vlieger, 1642

O som da respiração direciona meus sentidos: o olhar na penumbra / o toque nos cabelos / minha língua sobre a pele.

[se eu pudesse viveria com a língua em sua pele.

O respiro em minha nuca me lembrando que eu danço em suas mãos:

o cheiro dos meus cabelos se espalhando em seu rosto

e o gosto

se espalhando no meu rosto

[quase sempre inamovível — suave monumento que se mantém silencioso

mas que ao te reter assim,

desmancha].

O som em minha nuca me dizendo:

o cheiro misturado de perfume e suor que é seu cheiro e […]

até que eu ceda e diga o nome

que me desorienta:

o que te faz atender e virar correnteza

bicho

anjo

erva plantada por acaso no caminho.

Enquanto a luz entra pelas frestas e eu desabo lentamente no abismo permitido

digo teu nome porque […]

porque gosto do meu nome dito assim na tua voz

[no meu timbre que te faz pensar nas flores.

--

--