Ensaio para adormecer estrelas

parte 1 de uma estranha trilogia de tentativas

Rute Ferreira
1 min readMar 4, 2024
Fim de tarde silencioso, de Wilhelm Kotarbinski

Pressinto teu sono em minhas mãos

A suavidade inutilíssima por dentro do meu peito

carne sangue fibras nervos

[tantos pedaços de mim]

nada em si quando reparo a limpidez excessiva do teu sono — a doçura de que existas e nada mais

Silenciosamente descubro {ainda que disfarce}

a inutilidade de todas as eternidades

chagas tratados mapas visões.

Então teu olho me escapa — ligeiro e infindo numa viagem que jamais vai me incluir

e numa delicadeza [de onça bebendo em águas tão claras e de serpente adormecida sob o capim santo]:

— assim?

Te vejo: teu olhar de náiade mas como se possível a habitante solitária de uma Betelgeuse que só existiu

milhares e milhares de anos no futuro

na eterna volta de poeira e das marés.

— como?

E vigio as perdas e o rumor da paisagem e toda a inexplicável

linha desenhada em águas

e todo o terrível vestígio na areia.

— sim.

E o ensaio se perde entre incertezas.

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