Ensaio para adormecer estrelas
parte 1 de uma estranha trilogia de tentativas
Pressinto teu sono em minhas mãos
A suavidade inutilíssima por dentro do meu peito
carne sangue fibras nervos
[tantos pedaços de mim]
nada em si quando reparo a limpidez excessiva do teu sono — a doçura de que existas e nada mais
Silenciosamente descubro {ainda que disfarce}
a inutilidade de todas as eternidades
chagas tratados mapas visões.
Então teu olho me escapa — ligeiro e infindo numa viagem que jamais vai me incluir
e numa delicadeza [de onça bebendo em águas tão claras e de serpente adormecida sob o capim santo]:
— assim?
Te vejo: teu olhar de náiade mas como se possível a habitante solitária de uma Betelgeuse que só existiu
milhares e milhares de anos no futuro
na eterna volta de poeira e das marés.
— como?
E vigio as perdas e o rumor da paisagem e toda a inexplicável
linha desenhada em águas
e todo o terrível vestígio na areia.
— sim.
E o ensaio se perde entre incertezas.
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