Ensaio para construir pontes sobre rios
parte 3 de uma estranha trilogia de tentativas
Descubro antes que a luz encontre os riscos
e todas as linhas deixadas sob a fina camada que te envolve: um absurdo de tantas constelações.
Sei onde estamos: a boca da ponte
o esconderijo
o tear no alto e escuro daquela torre
tantos lugares perdidos
nós aqui, tão encontradas.
Meus sentidos preenchidos com cheiro gosto e som: é que nada passa por mim sem essa ponte
[sóbria edificação construída com os invólucros que arrancamos dos nossos estômagos — mas firme ainda, mais firme também.
Então a luz entra
e espalha os riscos as linhas os pontos a cor
dispara desenhos embrulhos desejos estrelas
e vejo — como quem descobre um segredo: a ponte está lá.
Não há mãos que me seguram dessa vez porque me acenas do outro lado um lembrete
espero então que a água se confunda com meu corpo
entro no rio e espero te alcançar.