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Rute Ferreira
1 min readJun 17, 2024
Mãe e filha da artista, de Berthe Morisot, 1870

Aos trinta e dois anos mamãe não se comparava com ninguém

as crianças — eram uma, duas, três

se amontoavam em cada canto da casa e ela

com nome de flor e cheiro de terra

mal tinha tempo de se enraizar em si mesma

precisava dar de mamar dar de comer e

mais importante

sob nenhuma circunstância

podia nos deixar morrer.

Aos trinta e dois anos depois de uma taça de vinho e de batatas me pergunto:

— Tenho feito o bastante? Isso é suficiente?

Nenhum bebê [ainda bem] no entanto

dou origem a uma multidão delas:

pequenas paranóias

desejos mutantes

comparações incompreensíveis.

Olho ao redor e me pergunto

— Mas quanto tempo falta? Por que não fiz antes? O que eu devia ter feito?

O espelho — imortal reduto do meu desejo — silencia enquanto num desespero que beira o ridículo

sussurro:

— mas até quando?

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