Estatísticas
Aos trinta e dois anos mamãe não se comparava com ninguém
as crianças — eram uma, duas, três
se amontoavam em cada canto da casa e ela
com nome de flor e cheiro de terra
mal tinha tempo de se enraizar em si mesma
precisava dar de mamar dar de comer e
mais importante
sob nenhuma circunstância
podia nos deixar morrer.
Aos trinta e dois anos depois de uma taça de vinho e de batatas me pergunto:
— Tenho feito o bastante? Isso é suficiente?
Nenhum bebê [ainda bem] no entanto
dou origem a uma multidão delas:
pequenas paranóias
desejos mutantes
comparações incompreensíveis.
Olho ao redor e me pergunto
— Mas quanto tempo falta? Por que não fiz antes? O que eu devia ter feito?
O espelho — imortal reduto do meu desejo — silencia enquanto num desespero que beira o ridículo
sussurro:
— mas até quando?
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