Fontes & Taças

Rute Ferreira
1 min readOct 10, 2024
Natureza morta com flores e taça de vinho, Thomas Hill, 1855

Desabo nos caminhos conhecidos e a memória é uma escritura apócrifa que me permito proibir: falho.

Há que se percorrer fontes e taças

capinzais e jardins

no meio do caminho [da rua então

teu olho a espantar cardumes

como se peixes pudessem andar em terras [não podem? por mim podiam.

Há que se percorrer fontes e taças.

Percorro lenta (e por acaso) os tantos lugares que são só meus agora porque […]

Só hoje/Não.

Queria o hoje porque é tudo que resta

mísero átimo — segundo incalculável de uma distância que ia se produzir porque já se produziu milhares de outras vezes [nunca contigo, eu sei.

Caminho percorro lembro: tantos verbos de memórias-monumentos

e o sentido onde se guarda você me pergunta com os olhos e eu digo não há sentido nenhum

no máximo há saudade ou um tecido um papel um resto de flor morta deixada

Há que se deixar. Há que se guardar fontes e taças.

E consertar o que está torto até que a fonte encha e a taça torne a esvaziar.

Há que se guardar fontes e taças.

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