Guardanapo
Procuro nos telhados vermelhos
nos jardins esquecidos atrás de uma plataforma de concreto
nas edificações mortas e nos terrenos baldios
uma insígnia que carregue teu olho, meu amor,
escondido como arma ritual.
Há tanto tempo que não ouço tua voz e se me escondo é procurando o timbre exato que me fez entender
certa vez
que as palavras tem textura e gosto — sendo teu nome salgado e tua saudade áspera.
Também áspero o caminho quando não te vejo — umas tantas voltas sem abrigo.
E procuro nas portas abertas
nas escadas carentes de pedras nas sobras de uma camisa rota
nos vidros rachados de uma janela
um emblema ilustrado com tuas mãos que eu possa costurar em minhas roupas como quando carregava nos antebraços
o cheiro que vem de ti.
Adormeço entre os lençóis claros e desperto quando escurece procurando saber do teu rosto
que há pouco se colava em minha pele como emplastro
e repentinamente
me curava.
Por isso é que procuro ainda entre as bolsas de pano e os chinelos de dedo
entre as canetas
por dentro de cada livro [sobretudo em cada livro
que exista um recado teu: uma mensagem cifrada escrita anos e anos antes do nosso nascimento mas que seja uma divisa
do tamanho do nosso amor.
Irmanados, teu olho e o meu poderiam inaugurar uma espécie de novo país
uma linhagem desconhecida de um mundo desabitado
cercado por gerânios, buganvílias, rosas e girassóis
todas as ervas crescidas nas rachaduras
nos mínimos espaços que há entre os telhados vermelhos, meu amor,
e o teu coração.
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