Buquê de flores, de Eugene Delacroix, 1843

Mandinga

Rute Ferreira

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Quando meu olhar repousa sobre os fios é porque meu corpo entende primeiro

respiro e espero. Atenta e imóvel.

Os fios alaranjados que me fazem pensar na curiosa Cyperaceae

e como te parece sua radiosa flor, se te parece — o outro nome dela é mandinga e sei que isso também cabe no teu léxico.

Dou um passo atrás para ver o que se esconde atrás dos teus espelhos d’água

[no escandaloso salitre inexplicável da água doce]

ou por trás do pensamento e num átimo percebo: é que eu te grudaria nas margens de um rio

como os que componho e esqueço

ou mesmo então os que se tornam lençóis transparentes sobre meu corpo [queria te cobrir também com eles].

Repasso a imagem da flor — essa bonita Cyperaceae — e penso nos fios

sempre penso nos fios. E na íris que

como a flor

arrebata o sentido do meu olhar: é feitiço, murmuro e deixo.

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