O sentido das raposas
Costuro teu nome como quem borda um segredo: começo pelas formas mais simples e penso que nem assim.
Desenho nas águas o sinal para que não se perca o sentido.
Teus olhos atentos.
(teu olho quase âmbar que me lembrou, sem nenhuma conexão aparente, que raposas gostam de amoras)
Teu olhos que alisam os pêlos do meu corpo inteiro e ainda assim.
Recomeço o trabalho de tecer e digo teu nome em silêncio — quem sabe assim eu o amarre ao meu peito
e o reflexo das tuas mãos nas águas
a delicada tessitura do teu ser.
Teus olhos argutos — e como se pudessem explorar o Duplo, também ingênuos
deslizando por minha pele a pergunta e eu respondo sim.
Que sim.
Respondo sim e o cheiro que agora me pertence invade os fios as linhas as agulhas
todos os tecidos que se movem sobre mim e atropelam a claridade do dia
a luz da manhã
quando teus olhos estão fechados e suspiras num lugar que não acesso
e num lento bater de cílios depositas — como se possível — toda a alacridade de existir
(e penso de novo nos sentidos das raposas).
Teus olhos se abrem e a costura cede: pergunto se são laços ou nós, essa linha de fogo, esse bordado que arde e esquenta quando sobre minha pele.
Teus olhos e sim.